quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Da sujeira dos copos

Para todos os clientes que frequentam meu botequim, tenho o prazer de anunciar: aqui, os copos são sujos! Alguns ficam escandalizados, outros acreditam ser brincadeira, uns ignoram e aqueles clientes mais fiéis sempre comemoram o fato com mais rodadas. Porém, ninguém me pergunta do que os copos estão sujos. Não é da saliva dos embriagados, nem dos restos de bebida que se faz a sujeira dos meus copos. Estes são sujos de histórias, das histórias dos clientes. Basta ver um copo para saber todos os acontecimentos e sentimentos trazidos pelos clientes que o utilizaram.
Estes dois copos, por exemplo, reservo sempre para um casal que frequenta este bar todas as quintas. Das primeiras vezes que aqui beberam, a sujeira do copo era avermelhada de amor e afeto. Até que, um dia, a amante do homem bebeu no copo de sua esposa, deixando lascivas marcas de batom no copo e, coitado do casal, no colarinho dele. Depois disso, os copos trincaram e a sujeira avermelhada desbotou.
Mostro também o copo do João, sempre sujo, já que ele, sempre desiludido, sempre bêbado, é meu melhor cliente. Pobre João, incompreedido no trabalho, traído pela mulher, sem outro rumo que não seja este bar. Há também o copo da Maria, que é cheiroso e formoso. Podia até pensar que este copo não é sujo, mas este não foge à exceção, pois há sempre marcas de dedos acariciando este copo.
Aquele conjunto de copos ali é sempre destinado para turmas de jovens. É a sujeira mais alegre e inocente do bar. Pena que os jovens andam se esquecendo de botecos iguais ao meu, de freguesia diversificada e muitas histórias. Agora é interessante ir nos lugares mais exclusivos, que, para entrar, o cliente precisa ser julgado e aprovado. Quase igual após a morte, em que o defunto aguarda ansiosamente pelo abrirdas portas do céu. Também há muita sujeira nos copos desses lugares, porém elas são lavadas e esquecidas sem ninguém tentar decifrá-las.

4 comentários:

  1. Boa Sorte aos dispostos a se aventurar nos copos sujos alheios. Boa Sorte àquele disposto a compartilhar os detalhes esquecidos do cotidiano humano.

    BTW, curti o "Quem sou eu"!
    Com FEED assinado, me despeço!

    T. Horta

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  2. O "quem sou eu" é muito preciso né, T. Horta?

    Fabrício, what the fuck is bogart?

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  3. Dont bogart that joint, my friend... pass it over to mee! (...) Roll another one... just like the other one..

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